Barbieri relembra de bastidores do Vasco

Técnico do Vasco no início de 2023, Maurício Barbieri comandou o time em um dos momentos mais sensíveis da história recente do clube: a transição entre o modelo associativo tradicional e o novo formato de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), gerido pela empresa norte-americana 777 Partners. Em entrevista ao podcast Charla, o treinador trouxe à tona bastidores daquele período, revelando detalhes sobre a relação com os executivos da empresa e as limitações enfrentadas no planejamento do elenco.

Barbieri contou que teve raras interações com Josh Wander, sócio-fundador da 777, que naquela época ainda era uma das figuras centrais da empresa. Josh, que hoje já não faz parte do comando da gestora nos Estados Unidos, era um dos responsáveis pelas promessas feitas na chegada ao Vasco, como a de equiparar o clube ao Flamengo nos aspectos técnicos e financeiros. Apesar da desconfiança que sentiu, Barbieri afirmou não ter tido desentendimentos com ele.

“Pouquíssimas vezes (tive contato com o Josh). Ele foi uma ou duas vezes lá (no Vasco). Eu não tenho medo de falar, não, ele foi uma vez, foi outra… nunca tive problema. A verdade é que prometeram muita coisa e não aconteceu”, relatou. “Mas uma hora que eu fui lá, vi aquele cara lá de boné, terno e tênis, eu falei ‘irmão, esse cara é sete’ (risos). Não tinha muito contato com ele”, completou o treinador, arrancando risadas dos apresentadores.

777 limitava contratações de jogadores experientes

Um dos pontos mais delicados apontados por Barbieri foi o perfil de contratações defendido pela 777. Segundo ele, a diretoria técnica, liderada pelo alemão Johannes Spors, impunha regras rígidas nas janelas de transferência, focando exclusivamente em jogadores jovens com potencial de valorização e venda futura, o que dificultava o equilíbrio do elenco com nomes mais experientes.

“Tinha um diretor, que era um alemão (Johannes Spors), diretor de todos os clubes (da 777). Já tinha trabalhado como diretor esportivo de outros clubes, ele tinha expertise de entender os mercados, os elencos. Tinha uma cobrança muito forte da 777 por contratar jogadores jovens, com potencial de revenda”, detalhou Barbieri.

O treinador revelou que, por conta dessa diretriz, o Vasco acabou deixando de lado algumas opções mais consolidadas, que poderiam ter sido importantes na disputa da Série A. “Muitas vezes a gente queria um jogador mais consolidado, e nessa primeira janela não queria, brecavam. Nessa primeira janela era impensável a vinda do Payet, é um cara que não teria revenda, o Vegetti… até agora poderia ter por tudo o que ele fez, mas de início contratar um atacante, um histórico tal, não tinha revenda”, destacou.

Saída precoce e retomada associativa

Barbieri foi contratado no final de 2022, logo após o acesso do Gigante da Colina à elite do Campeonato Brasileiro. Chegou com a expectativa de iniciar um novo ciclo no clube, mas saiu apenas seis meses depois, em junho de 2023, após uma sequência ruim no início do Brasileirão que deixou o time na zona de rebaixamento com apenas nove pontos somados.

Desde então, o cenário político do Vasco mudou mais uma vez. Em 2024, por decisão judicial, a 777 Partners foi afastada da gestão do futebol cruz-maltino. O controle foi retomado pelo modelo associativo, agora sob liderança do presidente Pedrinho, que reassumiu o comando do clube com a missão de reestruturar o projeto vascaíno.