Investigação nos bastidores do Vasco
A investigação sobre a criação da SAF do Vasco ganhou novos desdobramentos e colocou novamente a diretoria sob os holofotes. Um relatório detalhado produzido por uma comissão interna revelou indícios de pagamentos suspeitos, manipulação de balanços financeiros e omissão de informações durante o processo de venda de 70% das ações para a empresa norte-americana 777 Partners.
Segundo o documento, 21 pessoas foram indiciadas, entre ex-dirigentes e conselheiros do clube. As acusações variam desde irregularidades administrativas até condutas consideradas atentatórias ao patrimônio vascaíno. A comissão recomendou punições severas, incluindo a possível expulsão dos envolvidos do quadro social. Os acusados terão quinze dias úteis para apresentar defesa antes da elaboração do parecer final.
Entre os pontos mais polêmicos, o relatório destaca o pagamento de R$ 775.833,34 à empresa MJ Capital LTDA, de Blumenau, sem comprovação de serviço prestado. O que chama atenção é que a empresa foi aberta apenas 34 dias antes da assinatura do contrato e encerrada sete meses depois. O pagamento foi registrado como “Instrumento Particular de Acordo Preventivo de Litígio”, o que a comissão classificou como uma tentativa de disfarçar o repasse.
Manipulações em planilhas do Excel
Em tom contundente, o documento afirma que “todos os que aprovaram ou deixaram de contestar essa operação praticaram ato atentatório contra o Vasco, passível de responsabilização civil e criminal”. O caso é considerado o mais grave entre as irregularidades encontradas, por envolver quantia expressiva e ausência total de transparência.
Outro trecho do relatório aponta para o maquiamento contábil das dívidas do clube antes da criação da SAF. Um ex-funcionário relatou que o então vice-presidente de Finanças, Adriano Mendes, teria manipulado planilhas no Excel para reduzir artificialmente o valor do passivo apresentado ao Conselho Deliberativo. De acordo com a investigação, mais de R$ 200 milhões em dívidas foram omitidos, mascarando a real situação financeira da instituição.

Parceria entre o Vasco e a SAF 777 deu errado. Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Nomes revelados pela comissão
Além disso, o texto revelou a existência de um “Núcleo Central Decisório”, grupo restrito que conduziu todas as etapas da negociação com a 777 Partners. Entre os nomes citados estão Jorge Salgado, Carlos Osório, Roberto Duque Estrada, Zeca Bulhões, Carlos Fonseca, Adriano Mendes e Luiz Mello, ex-CEO do Vasco. A comissão destacou um possível conflito de interesses envolvendo Mello, que participou das negociações representando o clube e, logo depois, assumiu cargo executivo na empresa compradora.
“O caso é emblemático por expor um nível de parcialidade e negligência que fere a boa-fé administrativa”, afirma o relatório. Para os conselheiros, Luiz Mello atuou em benefício próprio e da 777, comprometendo a lisura das tratativas e colocando em xeque o processo de venda da SAF.

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Por fim, o documento levantou dúvidas sobre a própria empresa contratante. O contrato teria sido firmado com a 777 Carioca LLC, e não com a 777 Partners, como anunciado à época. A comissão afirma não ter encontrado dados consistentes sobre a origem e estrutura da subsidiária, classificada como uma “empresa de fachada”. O relatório anexou ainda um organograma que aponta dois sócios ocultos ligados à 777, violando o estatuto do Vasco e as normas de transparência do futebol brasileiro.




