O duelo em Lima que reacende um passado marcante

A final da Copa Libertadores de 2025, neste sábado (29), no Estádio Monumental de Lima, coloca Andreas Pereira no centro de um roteiro que o futebol parecia ter escrito exclusivamente para ele. Diante do Flamengo, o jogador revê o clube com o qual ficou marcado pela falha decisiva na final de 2021. Agora vestindo verde, ele se apresenta à decisão como protagonista do Palmeiras, carregando no corpo e na mente os aprendizados de quatro anos de reconstrução.

O trauma, a pressão e a reconstrução emocional

A cena de 2021, o passe interceptado por Deyverson e o gol do título palmeirense, transformou Andreas em alvo de fortes críticas. A pressão foi tão intensa que ele relatou ter passado a andar “em um carro blindado” por medo de agressões. Ainda assim, sempre buscou minimizar publicamente o peso emocional, resumindo o episódio com a frase que repete desde então: “Já passou, essas coisas são normais no futebol. Sou um profissional e não dou muita importância”.

A Europa como refúgio, terapia e plataforma de evolução

Sua ida ao Fulham, inicialmente recebida por muitos como exílio, rapidamente virou o ponto de virada. Em Londres, encontrou em Marco Silva o apoio necessário, um ambiente equilibrado, com treinos voltados à tomada de decisão, ao jogo entrelinhas e à evolução física, todos fatores que lapidaram sua versatilidade. Tornou-se peça-chave na Premier League, atuando como meia central, meia ofensivo e até segundo volante conforme o contexto dos jogos. Chegou a participar de campanhas seguras do clube na elite inglesa, transformando-se em um dos jogadores mais influentes do elenco ao lado de Reed, Palhinha e Mitrović. A consistência o devolveu à Seleção Brasileira, coroando um processo de maturação mental e competitiva.

O retorno ao Brasil e o novo papel no Palmeiras

Quando o Palmeiras apareceu com uma proposta firme em agosto de 2025, Andreas percebeu que era hora de encarar o passado de frente. Anunciado como camisa 8, prometeu desempenho imediato: “Quero mostrar meu futebol para a torcida do Palmeiras, fazer gols e dar assistências (…), isso é o importante”. Em campo, cumpriu. O meia disputou 13 das 16 partidas desde que chegou e foi decisivo nas quartas e semifinais da Libertadores, entregando mobilidade, intensidade e controle de ritmo a um time que precisava de novas referências.

Um reencontro simbólico com Deyverson antes da final

A narrativa ganhou contornos ainda mais cinematográficos quando o destino colocou novamente Deyverson no mesmo campo que Andreas, em setembro. Pelo Brasileirão, contra o Fortaleza, o palmeirense marcou dois gols, e celebrou um deles com uma foto em que Deyverson aparece desfocado ao fundo. Depois, explicou: “Foi um encontro entre profissionais (…). O que acontece dentro de campo é uma coisa, o que acontece fora é outra. De agora em diante quero escrever minha história com o Palmeiras”. Era a síntese perfeita do momento vivido.

O peso tático e psicológico do confronto com o Flamengo

Nesta final, Andreas recebeu apoio da torcida alviverde e é apontando como jogador decisivo. Para Abel Ferreira, ele é o jogador capaz de construir por dentro, acelerar transições e, ao mesmo tempo, segurar a bola para diminuir o ritmo quando necessário. Do outro lado está o Flamengo de Filipe Luís, dominante, vertical, intenso e mentalmente estabilizado. O reencontro com o clube onde viveu seu maior pesadelo transforma a decisão em um duelo que ultrapassa o campo tático e alcança uma dimensão emocional incomum até mesmo para uma final continental.

O Flamengo como fantasma superado e adversário a ser vencido

RJ – Rio de Janeiro – 29/05/2022 – BRASILEIRO A 2022, FLUMINENSE X FLAMENGO – Andreas jogador do Flamengo comemora seu gol durante partida contra o Fluminense no estadio Maracana pelo campeonato Brasileiro A 2022. Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Desde que deixou o Rio, Andreas observou o Flamengo seguir acumulando títulos e reforçando um elenco poderoso. Ainda assim, o meio-campista nunca escondeu o desejo de redefinir sua imagem no futebol brasileiro. Mesmo tendo recebido uma medalha de campeão da Libertadores de 2022 já como jogador do Manchester United, ele sabe que este sábado representa uma chance muito maior: a de mostrar a sua evolução.

Agora, aos 29 anos, Andreas Pereira chega à decisão com maturidade, confiança e a possibilidade real de transformar um trauma em um capítulo de redenção. A final entre Palmeiras e Flamengo em Lima pode não apagar o passado, mas certamente pode reposicionar sua história. Talvez seja, enfim, o momento de desfocar Montevidéu e trazer ao primeiro plano uma nova imagem, desta vez, construída com a camisa alviverde.